Joe Bonamassa lança ‘Blues of Desperation’, disco mais "pesado" de sua carreira!


Joe Bonamassa resolveu pisar no acelerador. O nerd workaholic da guitarra blues rock surpreendeu de novo em seu mais recente álbum: guitarras mais altas e frenéticas, com uma aspereza há tempos ausentes em seus trabalhos.
O recém-lançado “Blues of Desperation'', que chega em breve ao Brasil em CD pela Voice Music, resgata um pouco do começo hard rock lá nos anos 90, com a banda Bloodline, e se mostra bastante afiado em solos emocionantes e riffs cortantes e diretos. Há menos sutileza, mas sobram criatividade e energia.
Um dos principais artistas da atualidade, já chegando aos 40 anos de idade, o norte-americano Bonamassa ainda continua com um senso de urgência que espanta. Enquanto lança o novo CD e prepara uma turnê de lançamento, paralelamente trabalha no terceiro CD em parceria com o vulcão chamado Beth Hart, a diva roqueira que renasceu blueseira neste século.
Especialistas da imprensa musical norte-americana apostavam que o ritmo de trabalho intenso não permitiria que o guitarrista conseguisse superar a alta qualidade dos dois álbuns anteriores, “Driving Toward the Daylight'' (2014) e “Different Shades of Blue'' (2015), que trouxeram mistura bastante equilibrada de blues moderno, rhythm & blues e jazz. Acertaram, mas foi por muito pouco.
Bonamassa ousou e não economizou na radicalização. Se o rock esteve bem discreto nos CDs anteriores, aqui ele volta com força, em um hard blues furioso em alguns momentos, mas mantendo o feeling em composições afiadas e bem construídas.
Enfurnando por um tempo em Nashville, especulou-se que “Blues of Desperation'', apesar do nome, teria muitas influências da música country, até porque recorreu a alguns nomes de peso locais para contribuir na elaboração das músicas.
Quem houve “This Train'', a faixa de abertura, sente logo que o guitarrista vai enveredar por esse caminho country, embora o ritmo acelerado mantenha a pegada rock em alta.
A coisa muda de figura com a pesada e soturna “Mountain Climbing'', que varre o clima alegrinho e mostra um timbre nervoso e contundente. “Drive''dá uma freada, com um clima à la Chris Isaak, com a guitarra pontuando esse country blues melancólico, com fraseados e solos de muito bom gosto.
“No Good Place For the Lonely'' é um dos destaques do trabalho, resgatando o bues pesado que deu o tom em “Driving…'', o álbum de 2014, com Bonamassa abusando de toda sua habilidade calcada na influência de Jimmy Page, enquanto que o vocal traz o melhor do que seria um Paul Rodgers (Bad Company e Free) rejuvenecido.
É a instrução ideal para a melhor do álbum, a faixa-título. “Blues of Desperation'' é um hard blues que descamba para o hard rock com uma linha melódica contagiante, para não falar nos excelentes arranjos de guitarra que permeiam as harmonias. O DNA do Led Zeppelin “contamina'' a música de tal forma que caberia perfeitamente em um álbum da lenda, como “Presence''.
Há momentos menos inspirados, como “The Valley Runs Low'', um soul blues honesto e com boa dose deramaticade, e a acelarada e roqueira “You Left Me Nothin' But the Bill and the Blues''.
A fúria e o peso voltam em “Distant Lonesome Train'', certamente um filhote perdido da banda Black Country Communion, que Bonamassa liderou ao lado do mestre Glenn Hughes (ex-Deep Purple e Black Sabbath). O belo trabalho de guitarras, com timbres densos e volumosos, já vale a canção.
Ao final do trabalho, uma concessão às raízes, com um boogie jazz com clima dos anos 30 em “Livin' Easy'' e um blues tradicional arrastado com direito a naipe de naipe de metais em''What I've Know For A Very Long Time'', como se fosse um verdadeiro tributo a B.B. King.
“Blues of Desperation'' é um álbum maduro e de muita qualidade, por mais que apresente alguma irregularidade em relação à escolha dos temas.
“Eu quero que as pessoas ouçam a minha evolução como um artista de blues rock'', declarou o guitarrista em uma entrevista recente a uma revista norte-americana pouco antes do lançamento do novo álbum.
Para isso, em sua segunda incursão para um trabalho totalmente autoral, não hesitou em procurar parcerias para oxigenar o seu trabalho. Ele assina todas as composições, mas sempre ao lado de um parceiro, e desta vez estes foram gente de peso, como James House, Tom Hambridge, Jeffrey Steele, Jerry Flowers e Gary Nicholson.
O novo álbum não é melhor do que os dois anteriores – até porque a base de comparação é muito, muito alta -, mas sinaliza que Bonamassa é um artista de vanguarda dentro de seu estilo, sem medo de arriscar e seguro o suficiente para buscar a incorporação de novos horizontes e elementos musicais.


Fonte: UOL

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