Vai com Deus, amigo!
Éramos uns garotos que amávamos os Beatles e os Rollings Stones.
E Pink Floyd, e Rush, e Led, e Purple, e Barão, e Titãs, e Legião, e Paralamas... enfim, amávamos tocar.
E entre nós tinha um que tocava mais. Mais e melhor. Não, não era nenhum “front man”, um puzta cantor lindo-loiro-de-olhos-azuis, ou um guitarrista excepcional. Nossa estrela estava na cozinha. Era o moleque cabeludo quase escondido atrás de pratos, ferragens e tambores que chamava mais a atenção nos shows. O motivo era simples: tocava muito.
Ao contrário da maioria das bandas citadas no começo, o fato de termos no grupo alguém que se destacava mais que os outros nunca foi motivo de briga. Aliás, acho que nunca brigamos ali dentro. Não a sério. Pelo contrário. A gente admirava o moleque cabeludo. A gente se impressionava com a pegada, a precisão. A gente tinha orgulho de ser da mesma banda dele. A gente adorava ver o público vibrar com sua performance.
Acho que o cabeludo aguentou a nossa mediocridade por muito tempo até. Por um motivo muito simples também: antes de tudo, todos nós éramos amigos, praticamente uma família (sem demagogia nenhuma, juro).
Mas chegou um momento em que percebemos que tínhamos chegado ao nosso máximo. Como grupo. Não individualmente, até porque o cabeludo ainda ia evoluir muito. Acho que consciente ou inconscientemente a gente sabia que tava segurando demais a nossa estrela e pensamos por bem deixá-lo livre. Como já dizia o Sting naquele som que a gente adorava, “if you love somebody, set them free”. O fim da banda foi uma coisa tão natural, que nem parece que acabou. Até hoje eu carrego este sentimento. Parece que a gente só tava dando um tempo para voltar um dia.
Só que então aconteceu algo que mudou todos nós. E aí foi impressionante descobrir que o cabeludo não era só um grande amigo e um ótimo músico. Era muito mais. Era um guerreiro. Por anos travou sua batalha de uma forma tão bela – assim como sua bela família – que deixou exemplos e lições em todos nós, com seu coração enorme, sua bondade, seu carisma, sua amizade.
Foi o primeiro amigo próximo que perdi na vida. Doeu. Dói. Vai doer até sei lá quando, provavelmente para sempre.
Na terça-feira pela manhã, quando levava meu casal de filhos mais velhos para a escola, antes de me despedir do cabeludo, contei a eles o que aconteceu com o meu amigo. O meu garoto, com a simplicidade que caracteriza toda criança, comentou: “Hiii, pai, então agora você vai ter que colocar outro baterista na sua banda”. Acho que, como eu, meu filho também esperava a nossa volta um dia, mesmo sem nunca ter visto o pai ao vivo num palco. Respondi que as coisas não são simples assim. Tem coisa que não dá para substituir. Até que todos passemos para o andar de cima, nosso “revival” vai ter que esperar mais um pouco. O duro vai ser aguentar a saudade...
Ass. Tião do Resina
E Pink Floyd, e Rush, e Led, e Purple, e Barão, e Titãs, e Legião, e Paralamas... enfim, amávamos tocar.
E entre nós tinha um que tocava mais. Mais e melhor. Não, não era nenhum “front man”, um puzta cantor lindo-loiro-de-olhos-azuis, ou um guitarrista excepcional. Nossa estrela estava na cozinha. Era o moleque cabeludo quase escondido atrás de pratos, ferragens e tambores que chamava mais a atenção nos shows. O motivo era simples: tocava muito.
Ao contrário da maioria das bandas citadas no começo, o fato de termos no grupo alguém que se destacava mais que os outros nunca foi motivo de briga. Aliás, acho que nunca brigamos ali dentro. Não a sério. Pelo contrário. A gente admirava o moleque cabeludo. A gente se impressionava com a pegada, a precisão. A gente tinha orgulho de ser da mesma banda dele. A gente adorava ver o público vibrar com sua performance.
Acho que o cabeludo aguentou a nossa mediocridade por muito tempo até. Por um motivo muito simples também: antes de tudo, todos nós éramos amigos, praticamente uma família (sem demagogia nenhuma, juro).
Mas chegou um momento em que percebemos que tínhamos chegado ao nosso máximo. Como grupo. Não individualmente, até porque o cabeludo ainda ia evoluir muito. Acho que consciente ou inconscientemente a gente sabia que tava segurando demais a nossa estrela e pensamos por bem deixá-lo livre. Como já dizia o Sting naquele som que a gente adorava, “if you love somebody, set them free”. O fim da banda foi uma coisa tão natural, que nem parece que acabou. Até hoje eu carrego este sentimento. Parece que a gente só tava dando um tempo para voltar um dia.
Só que então aconteceu algo que mudou todos nós. E aí foi impressionante descobrir que o cabeludo não era só um grande amigo e um ótimo músico. Era muito mais. Era um guerreiro. Por anos travou sua batalha de uma forma tão bela – assim como sua bela família – que deixou exemplos e lições em todos nós, com seu coração enorme, sua bondade, seu carisma, sua amizade.
Foi o primeiro amigo próximo que perdi na vida. Doeu. Dói. Vai doer até sei lá quando, provavelmente para sempre.
Na terça-feira pela manhã, quando levava meu casal de filhos mais velhos para a escola, antes de me despedir do cabeludo, contei a eles o que aconteceu com o meu amigo. O meu garoto, com a simplicidade que caracteriza toda criança, comentou: “Hiii, pai, então agora você vai ter que colocar outro baterista na sua banda”. Acho que, como eu, meu filho também esperava a nossa volta um dia, mesmo sem nunca ter visto o pai ao vivo num palco. Respondi que as coisas não são simples assim. Tem coisa que não dá para substituir. Até que todos passemos para o andar de cima, nosso “revival” vai ter que esperar mais um pouco. O duro vai ser aguentar a saudade...
Ass. Tião do Resina
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